domingo, 12 de julho de 2009

aBalada na Capital

"O Pesadelo" de Fuseli
Noite de sábado. A chuva parou e ela entra no carro para ir a uma balada na cidade de São Paulo.
Na chegada, o frio faz a recepção calorosa.
Paga o estacionamento.
No passeio, de madrugada, pelas ruas da cidade vê-se em uma mesma avenida mendigos dormindo nas calçadas, playboys que desfilam com os seus carros importados e botecos cheios.
Entra e logo senta. Local escuro, abafado. Sente-se incomodada e pede uma smirnoff ice. Não está lá. É novamente, pela segunda vez no dia, uma estranha no ninho. As portas fechadas. O lugar, as pessoas, a cor, a luz, as músicas e o cheiro a incomodavam muito. Pura percepção, sensação de não-pertencimento naquele espaço-tempo. Prende a respiração, mais uma vez, arruma a alça do sutiã e permanece ali aBalada. No buraco, vêem-se corpos que se mexem sem saber o porquê, bebidas no último gole, até quando não puderem mais equilibrar o próprio corpo. Olha-se e não é para ela. Incomodada. Sobe, senta e vê casais se esfregando no sofá. Enjoa e desce. Lá fora, compra uma água e vai tomar um ar fresco. O segurança não pára de olhar para as suas coxas. Que droga! Não deveria ter saído com este vestido. Queria não ser notada, mas não tem como. Sai dali e senta-se ao lado de uma mulher. A música, quase psicodélica, acompanha-a na madrugada e a luz pisca alucinadamente. Fecha os olhos e por alguns instantes nada vê ou escuta e pensa que está tudo bem. aBalada continua. De repente, três moças chegam na mesa. O clima muda. Não percebe nada. Perguntam o seu nome e ela apenas responde. Silêncio. Respira fundo e mentaliza: "vamos embora". Não agüenta mais. Muda de mesa. Uma garota bêbada soluça e bebe o seu uísque agora pelo lado contrário do copo. O soluço vai embora. O uísque, não, é seu companheiro na noite. Levanta a perna e mostra o seu sapato. "10 cm de altura?", pergunto. "Não, 12 cm. Os meus dedinhos estão espremidos", responde rindo. Outra pergunta preenche o vazio da noite "Vocês também trabalham no Mc Donald's?". As duas se olham e respondem em coro "Não". "Tô solteiro, viu?". A do uísque conta como conheceu Gilson pela primeira vez, há 13 anos atrás. "Uma amizade de 13 anos, viu?". Cala a boca. E escuta mais umas cinco vezes a mesma frase "Tô solteiro". E daí?
Lá dentro. Ninguém escuta ninguém. É cada um no seu quadrado. O barulho está deixando-a surda e tonta. Tampa os ouvidos. Idiota. Não dá mais. Vai embora, para nunca mais voltar!? aBalada.

sábado, 11 de julho de 2009

Nuvens

Vik Muniz: "Nuvens"


As nuvens já se abriram e eu posso ver um pedaço do céu!


quinta-feira, 9 de julho de 2009

Panis et Circenses

Eu quis cantar minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no lar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
são as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer...

Mandei fazer de puro aço luminoso punhal
Para matar o meu amor e matei
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas na sala de jantar,
são as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer...

Mandei plantar folhas de sonho no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo chão
E as raízes procurar, procurar
Mas as pessoas na sala de jantar,
essas as pessoas na sala de jantar
São as pessoas na sala de jantar,
mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer...

domingo, 5 de julho de 2009

A encenadora da dança

A personagem desta semana só poderia ser Pina Bausch. Malícia e astúcia não faltavam em suas coreografias. A dança perdeu sua grande encenadora. Pina Bausch faleceu na última terça-feira (30).

O meu primeiro contato com a obra de Pina Bausch foi ao assistir o filme "Fale com ela" de Pedro Almodóvar e juntamente com o personagem do cineasta que chorava ao assistir "Café Muller" também me emocionei muito. Não era apenas uma coreografia de dança, ela sabia muito bem o que queria dizer ao público. E Almodóvar que contava a história de uma jovem bailarina que após sofrer um acidente entra em estado de coma sem perspectivas de sair do mesmo foi bastante astuto ao colocar parte do espetáculo de Bausch em seu filme.

Em “Fale com ela” é chocante ver o corpo da jovem bailarina praticamente desfalecida assim como em “Café Muller” ver aquela mulher com os braços estendidos o tempo todo e tropeçando nas cadeiras que estão dispostas em todo o palco também nos causa um estranhamento. Falta algo naquela jovem que está em estado vegetativo assim como falta na mulher criada por Bausch. A alma feminina é escancarada no espetáculo: mulheres vividas que perderam suas essências ao longo dos acontecimentos da vida, mulheres que perambulam quase sonâmbulas tropeçando nos objetos. Que se entregam, que se jogam, que perdem as suas forças, que são amparadas pelo corpo de um homem. São mulheres de qualquer parte do mundo. Do Brasil, Japão ou Inglaterra. E é por isso, por ter esse espírito universal que “Café Muller” emociona e choca ao mesmo tempo platéias do mundo todo seja no palco ou no vídeo.

Voltei várias vezes o pequeno trecho do espetáculo de Bausch que está no filme de Almodóvar para revê-lo e novamente mexeu comigo.

Para quem quiser conhecer um pouco da artista Pina Bausch, vale a pena assistir alguns de seus trabalhos no Youtube como “Mazurca Fogo”, é simples mas ao mesmo tempo profundo.

Além disso, a Cia. Tanztheather Wuppertal de Bausch apresentará os espetáculos “Café Muller” (1.978) e “A Sagração da Primavera” (1.975) com música de Igor Stravinsky no Teatro Alfa (SP) em setembro deste ano.

Pina Bausch (1940-2009)
Coreógrafa e bailarina, nasceu em 27 de julho de 1940 na cidade de Solingen, Alemanha.
Em 1968, estreou como coreógrafa. Dentre seus trabalhos estão: "Komm tanz mit mir" ("Vem, Dança Comigo", 1977), "Café Müller" (1978), "Keuschheitlegende" ("Lenda de Castidade", 1979) e "Viktor" (1986).
Em 2001, realizou o espetáculo “Água” concebido após a sua passagem pelo Brasil. No ano de 2007, a artista ganhou o Prêmio Kyoto – importante prêmio de dança. No mesmo ano, foi vencedora do Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra no Festival de Dança da Bienal de Veneza.

domingo, 21 de junho de 2009

Proposta indecente

Hoje, logo pela manhã, uma grande amiga me fez um convite inesperado:
- Cá, vamos estudar política?
E complementou:
- Voltei ao mundo real, comprei um jornal, e quero entender algumas coisas, como funcionam certas estruturas.
A questão de alguma forma reverberou em mim.
De manhã acordei, fui ler uma revista e parei, literalmente, para refletir sobre o seguinte depoimento de Augusto Boal:
"As sociedades se movem pelo confronto de forças, não pelo bom senso e justiça. Temos de avançar e, a cada avanço, avançar mais, na tentativa de humanizar a Humanidade. Não existe porto seguro neste mundo, porque todos os portos estão em alto-mar e o nosso navio tem leme, não tem âncoras. Navegar é preciso, e viver ainda mais preciso é, porque navegar é viver, viver é navegar!"
Política para mim sempre soou como algo podre, sujo, um meio cheio de intrigas e conchavos. Não gosto disto. Mas, por que esta estrutura funciona desta maneira?
Desde que eu era criança, ouço dizer que o Brasil é assim mesmo, não vai melhorar nunca, que a política é jogo sujo, que você entra cheiroso e sai fedido.
Nas últimas eleições, comecei a observar as pessoas e a mim mesma. Logo, notei o descaso, escutei histórias assustadoras, por exemplo, que candidatos estavam comprando os votos nas favelas da cidade e comentários diversos desde "vote em fulano, este é o cara" e quando eu questionava sobre a proposta do tal fulano o silêncio imperava, até o radicalismo do "não vou votar em ninguém, porque todos são farinha do mesmo saco" ou "o meu voto é nulo". E assim, caminhei para as urnas, simplesmente cumprindo uma função, porque era obrigada a ir, de última hora, desesperançada, sem perspectivas e sem candidatos. Não sei se fiz a escolha certa: a de não optar por ninguém. Por que devo optar se não vejo propostas claras, conscientes e objetivas? E porque também tenho que cumprir esta função? Muitas idéias vieram em minha cabeça, de uma cidade que poderia ser muito diferente se realmente novas propostas entrassem em vigor. Cadê as novas propostas? Já foi, já escolhemos os nossos representantes que estão a cada dia mais longe de sua cidade. Não foi à toa que o Planalto Central, a capital política do Brasil, foi construído em Brasília. Não consigo entender o porquê de tanta desigualdade, fome e miséria em um país que é considerado celeiro mundial. Até quando muitos serão massacrados para ostentar o luxo de poucos?
Será que a resposta é até quando ficarmos sentados no sofá assistindo ao Domingão do Faustão?
Não sei.Sinceramente, gostaria de fazer um pedido, que os charutos cubanos dos políticos brasileiros apaguem e que eles realmente realizem os projetos que de fato interessam para a população. Não é pouco o que esperamos e, sim, muito mais: saúde, educação, cultura, esporte e lazer. O que falta, como diria a minha avó, é vergonha na cara, respeito e atitude. Por favor, não somos idiotas. O brasileiro trabalha de sol a sol, ganha muito pouco, paga suas contas, todos os impostos e trabalha de sol a sol, ganha muito pouco,... Brasil, um país de todos!? Este slongan só serve mesmo para gringo ver.
Conheço superficialmente a estrutura política, mas acho que vou começar a estudá-la, com calma.
O simples fato de estar vivo, já faz de nós pessoas políticas. É necessário tomar uma posição. Contudo, mais do que isto é necessário coerência nas propostas e atitudes, portanto o conhecimento é imprescindível para a mudança. Vamos propor, mesmo que as propostas sejam utópicas!
Lanço a minha agora: "Vamos parar, por um dia, sem trabalhos, sem compras, sem academias, sem escolas. Tudo isto está proibido neste dia para simplesmente conversarmos, refletirmos e propormos mudanças".
Algo muito romântico?
Um pouco de utopia não faz mal a ninguém. Navegar é preciso!
Amiga, a minha resposta é sim.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Mensageira: tanto se vive sem ter para quem contar!

Acampamento Anita Garibaldi Guarulhos

Para inaugurar o Passageiro Cultural, convido a personagem Cortina Rendada para me ajudar a adentrar neste campo vasto que é o da arte, vida e imaginação.
A peça mostra um país triste em que todos choram e não sabem o motivo de tanta tristeza. Para desvendar este mistério é preciso passar o portal, para um mundo estranho cheio de violência e intriga, e ir em busca de um velho poeta.
É enredo de peça infantil?
Sim, mas que fez muito adulto se emocionar.
Essa divertida história, de um país que está à beira de um colapso porque as Janelas não páram de chorar, foi encenada pela Cia Teatro dos Orelhas no ano de 2005. Os orelhas, contadores, espalharam a notícia deste país triste pela cidade de Guarulhos. Fizemos mais de 30 apresentações do espetáculo O Mistério das Janelas por escolas, bibliotecas, parques e teatros da cidade.
E a notícia da tristeza foi chegando de casa em casa, as crianças que assistiram a peça com certeza também contaram para parentes e amigos.
Inesquecíveis são os olhares, os sorrisos e as risadas. Alguns olhavam com desconfiança, mas a maioria escrevia bilhetinhos. Ops, para mim não, é claro que era para o herói, o Trinco. Eu contava também o vilão, o terrível Violêncio, do Mundo Real.
Lembro-me que a minha priminha foi assistir e no final nem quis chegar perto de mim. Ficou com medo. Engraçado.

O Mistério das Janelas foi o nosso primeiro espetáculo, feito com muito carinho e juntamente com pessoas muito talentosas: Adriano, Dani, Edson, Mika, Marília, Luciano, Jorge, Cátia e Alexandre. Uma equipe de peso com músicas e cenas poéticas. Experiência única e valiosa. Vamos recordar!
Uma das músicas da peça:
Pomporompompom,
Pomporompompom.
Tanto se vive
sem ter pra quem contar.
Quase ninguém pára pra escutar.
Abra sua janela,
os orelhas vão entrar,
para ouvir a vida,
que há em todo o lugar.
Pomporompompom,
Pomporompompom...
Sinopse:
Um País Triste
O País das Janelas está contagiado por uma tristeza enorme. Senhor Janelão envia Cortina Rendada para o País das Fechaduras em busca de ajuda. Ao saber que para desvendar o mistério da tristeza das janelas é preciso encontrar seu Consciêncio Sabius, um grande poeta que vive no Mundo Real, Trinco parte para a perigosa missão. Ao passar o portal, depara-se com um estranho mundo recheado de intriga e violência. Será que as janelas voltarão a sorrir?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Um suspiro e uma queda

Clique sobre a imagem e veja lindos Buquês de Flores de Elisa Moura

Um mundo sem fronteiras, repleto de cheiros, cores, sabores, sons e sensações.
Repleto de produtos que de alguma maneira são fabricados para aguçar nossos sentidos.
Falso, raso, sem profundidade, sem canto, descanto.
O verdadeiro cheiro de uma única flor se perde no turbilhão de informações.
Suspirar, sem sentir o ar
Inspirar, sem sentir o perfume
Dormir, sem sentir o sono
Andar, sem sentir as pernas
Falar, sem sentir os ossos ressoarem
Cair, sem sentir o chão
Amar, sem sentir o outro
Escutar, sem ouvir o outro
Viver, sem vivenciar as coisas de fato
Estudar, sem entender o que está sendo dito
Sem sentido
Por isso, um suspiro e uma queda.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Livro "Henrik Ibsen no Brasil"




Karl Erik Schollhammer em homenagem ao centenário de morte de Henrik Ibsen organizou o livro Henrik Ibsen no Brasil publicado pela 7 LETRAS e Editora PUC-Rio no ano de 2008.
Henrik Ibsen (1828-1906), dramaturgo norueguês, é considerado o precursor do teatro moderno e suas obras são clássicos da dramaturgia mundial e foram encenadas em diversos países.
Rosyane Trota, pesquisadora e autora teatral, escreveu que "Os ensaios reunidos por Karl Erik Schollhammer oferecem instrumentos para a compreensão e a reflexão sobre as relações entre forma e sentido, decifrando os mistérios de uma obra cuja riqueza atravessa gêneros e convenções. Ao mesmo tempo, apontam de que modo o contexto cultural de cada época altera a leitura das peças, deslocando não apenas a linguagem, mas também o foco da ação, o tema central, a função dos personagens".
Dentre os ensaios reunidos encontra-se Mariana Conta Quatro: uma experiência a partir de Ibsen, depoimento do ator e produtor Adriano Rizk sobre o processo de montagem do espetáculo teatral Mariana Conta Quatro, adaptação da Cia. Teatro dos Orelhas (núcleo de produção da Cooperativa Paulista de Teatro) da obra John Gabriel Borkman, de Henrik Ibsen. O espetáculo estreou em 07/10/2006, no ano do centenário de morte de Ibsen.

Sarau Salada Periférica

No dia 18/12 aconteceu o Sarau Salada Periférica em Guarulhos/SP
Com muito teatro, circo, música, poesia e capoeira.
Para visualizar todas as fotos acesse: http://www.myspace.com/teatrodosorelhas


domingo, 21 de dezembro de 2008

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